terça-feira, 11 de novembro de 2014

Especial: A importância da bateria para uma escola de samba

Ensaio técnico da escola Império Serrano.
Por: Thays Girardi
A bateria é o coração da escola de samba. Através dela, a cadência e o ritmo do samba são marcados. Com a bateria é possível fazer uma bela apresentação e seu som contagiante anima passistas, foliões e integrantes.
Com o dever de acompanhar o canto e conduzir o ritmo, os integrantes da bateria precisam está em sincronia com a música.
No Grupo Especial carioca, cada escola possui cerca de 300 instrumentistas e é composta pelos seguintes instrumentos: Surdo de primeira, Surdo de segunda, Surdo de terceira, caixa de guerra, repique, chocalho, tamborim, cuíca, agogô, reco-reco, pandeiro, e prato.
Cada escola de samba tem sua variação. Diego Pereira, de 21 anos, toca caixa atualmente na Vila Isabel, mas antes de ir para lá, fazia parte do Império Serrano. Ele conta que são baterias totalmente diferentes e que enquanto a tradição da bateria do Império é a utilização do agogô de 4 bocas, a bateria da Vila Isabel é uma bateria de ritmo moderado sem correria e não utiliza agogô.


Veja a entrevista com Diego Pereira, ritmista.
Diego Pereira, 21 anos, ritmista.

SambahBlog: O que levou você a querer participar de uma bateria de escola de samba?
Diego Pereira: Quando tinha meus 14-15 anos, eu nunca tinha ido a uma escola de samba e nem nunca fui ligado ao samba, mas um belo sábado de 2008, minha mãe insistiu para que eu fosse na feijoada do Império Serrano e eu resolvi ir.  Chegando lá, vi uma multidão e todos dançando, rindo, bebendo e brincando, mas não mexeu muito comigo. Vários grupos cantaram diversas músicas de diversos estilos, mas quando chegou a hora da apresentação da bateria, na qual nunca tinha visto uma tão de perto, ouvi o som do apito dando o código inicial para que fosse executada a bossa (termo que usamos para "paradinha"). Quando iniciou a bossa eu fiquei de boca aberta, sem palavras e totalmente encantado com todo aquele ritmo. Uma prima minha era casada com um integrante da bateria e ele perguntou se eu sabia tocar, disse que não, mas do mesmo jeito ele me levou até lá em cima e me botou um talabarte, uma caixa e duas baquetas e falou segue o que você sabe fazer. Toquei todo sem jeito, mas estava lá no meio vivendo e sentido tudo aquilo.

SB: Quanto tempo você desfila na bateria?
DP: Desde meus 14 anos, hoje tenho 21.

SB: Teve algum momento marcante em algum desfile que participou? Qual e como foi?
DP: Sem dúvidas o primeiro desfile, em 2009.
Diego em 2009 vestido de fuzileiro na bateria do Império.
Ensaiei em 2008 pro carnaval de 2009, quando ouvi a sirene de autorização de esquenta de bateria, o nervosismo tomou conta e logo depois que entramos no primeiro recuo e a sirene toucou novamente autorizando o inicio de desfile, ali naquele momento pela minha escola Império Serrano, com o enredo "A lenda das sereias e os mistérios do mar", a emoção subiu e o choro desceu de emoção.
Outro momento emocionante, foi quando fizemos uma paradinha no meu primeiro desfile que estávamos vestidos de fuzileiros navais e quando o mestre dava o sinal, nos executávamos a paradinha, sendo que tinha uma particularidade. Cada metade da bateria virava para as arquibancadas e prestava continência, quando nós fizemos isso, eu vi cada expectador ir a loucura como se nós tivéssemos feito o maior golaço na final do campeonato, esse momento não sai da minha mente.

SB: Você tocou na bateria do Império Serrano e agora está na Vila Isabel. Existe alguma diferença entre essas duas baterias? Qual?
DP: Sim existe, são baterias totalmente diferentes. A bateria do Império utiliza uma batida de caixa com acentuações durante a execução e um rufado no primeiro tempo (no samba existem 4 tempos e é só contar até 4 durante qualquer execução ou introdução, ou bater palma) e a tradição da bateria do Império é a utilização do agogô de 4 bocas. Um detalhe interessante é que fomos a primeira escola de samba a utilizar esse instrumento e até hoje mantivemos a tradição.
Já a bateria da Vila Isabel é uma bateria de ritmo moderado, sem correria e com muita cadência. A batida da caixa é reta, com 3 rufados na virada do samba e não utiliza agogô.

SB: Muitos ritmistas reclamam que a fantasia atrapalha a movimentação. Você já passou por isso?
DP: Risos. Esse é o carma de todos ritmista. O carnavalesco pensa no carnaval e não nas pessoas, se os foliões sofrem com fantasias pesadas e quentes, imagina nós, que além de desfilar, tocamos praticamente todo o desfile. Eu sofri desse mal. Quando a fantasia não é pesada, ela é quente, mas no final tudo da certo. É só comer muita fruta e beber muito líquido antes do desfile. Perdemos muito peso durante o desfile, entorno de 1,5 Kg, por isso é importante a hidratação antes e depois. Esse ano de 2014 desfilei em duas escolas: Império Serrano e Renascer de Jacarépagua. Na Renascer fui para ajudar uns amigos que estavam precisando de bons ritmistas para somar na bateria, fui chamado faltando 3 dias pro desfile. Muita confiança e responsabilidade que foi atribuída a mim e a um grupo de ritmistas que foram chamados para desfilar em cima da hora. Desfilei nas duas escolas com fantasias muitos fechadas e quentes.

SB: Como é a rotina de um integrante de uma bateria de escola de samba?
DP: É uma rotina de muito ensaio e show. Nosso carnaval começa no meio do ano, enquanto o de pessoas que não integram uma escola começa em fevereiro e dura só 4 dias, o meu dura quase um ano, entre ensaios, shows e eventos na escola. Ensaiamos duas vezes na semana, um ensaio é de bateria e o outro é de comunidade, onde tocamos para comunidade poder ensaiar. São dois dias distintos de ensaio, fora os eventos como feijoada, sambas e shows em diversos lugares.

SB:Você consegue conciliar o trabalho  com os ensaios?
DP: Consigo, faço isso há quase dez anos e sempre tive tempo pro samba e pra outras coisas. Os ensaios começam por volta de 8:30 da noite e vão até 10:30 da noite. Então não fica tão pesado para ensaiar toda semana e trabalhar no dia seguinte, além de já estar na massa do sangue a rotina de trabalho e ensaio.

SB:Como fica a expectativa e a ansiedade antes de entrar na avenida?
DP:Sempre bate um nervosismo, pois estamos disputando um título, levando uma escola, ditando o ritmo para que 2000 a 3500 componentes desfilem, sem falar os espectadores tanto da Sapucaí, quanto da televisão observando a bateria, vendo as paradinhas, todos aguardando uma paradinha diferente para que possam vibrar e para que possamos alcançar a nota máxima (10).
  
SB:Além de você, mais alguém da sua família desfila?
DP:Minha mãe foi obrigada a ir nos ensaios para me acompanhar, pois era menor de idade e tinha que ter autorização, acompanhamento e ter boas notas na escola  para que eu pudesse desfilar. Minha mãe aproveitou que tinha que me levar nos ensaios para se inscrever na ala de comunidade e ensaiar também. Hoje em dia ela sai em diversas escolas e chega a gostar mais de samba do que eu.

SB: O que uma bateria precisa ter para ser nota 10?
DP: Primeiramente precisa ter bons ritmistas e bons diretores. Uma boa formação e educação musical, são essenciais para que a bateria possa desenvolver um ótimo trabalho e faça com que tudo ocorra bem durante ensaios e durante o desfile.


A seguir você vê o vídeo postado no canal do Diego Pereira em que ele ensina a tocar caixa.

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